terça-feira, 27 de junho de 2017

Essa pele, neve. Esse sorriso, fácil. Esse ar de doçura, candura. Tudo parece simples, tranquilo, superfície calma desse mar que são teus olhos. É aqui que te decifro e te devoro: turbilhão. Neles, mergulho. Numa profundeza que ninguém alcança, vendo assim de passagem. É nesse verde que habitam sereias, monstros marinhos e animais de cores impossíveis. Teu eu mais secreto, escondido, perigoso, mostrando os dentes em fúria. Criando correntes que desafiam leis da Natureza e afogam pescadores desavisados. Ouço teu canto e danço pra você. Acredito nas tuas lendas. Do sol, que brinca nos teus olhos. Da lua, que neles se reflete, invejosa e arisca. Das marés e idas e vindas e dúvidas e certezas. Faço desenhos na superfície que te tocam a alma. Arrisco um sorriso. Arrisco um improviso, porque me é desconhecido teu ser, Deusa das Águas. E é nessa hora que você se derrama e se entrega. Líquida, fluida, fugidia. Sinto o teu gosto de sal e me afogo. E essa morte é tão cheia de vida, que chega a doer.

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