Ilustração: Alice Kobayashi
Ela que é gueixa e é Alice, que orienta os meus passos no País das Maravilhas. Sabe que o Coelho é também Chapeleiro e toma chá no meio da tarde. Menina das cores suaves e nomes desconhecidos. Delicadeza. Origami que me dobra. Ela que canta baixinho, enquanto desenha o que fica atrás dos olhos. Negros. Águas calmas onde mergulho, enquanto ela voa.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Precisava ir embora.
Foto: Mirella
Precisava ir embora. Não aguentava mais viver com ele. Depois de alguns meses juntos, o Soldadinho de Chumbo, começou a mostrar quem realmente era. Não queria que ela dançasse, nem usasse o vestido de bailarina. Dizia que botar as pernas de fora era coisa de prostituta. Mulher dele, tinha que viver pra tomar conta do seu homem e da sua casa, que mais parecia um quartel. Talvez, por ter uma perna só, ele se sentisse humilhado e para descontar a sua raiva do mundo, a humilhava também. Dizia que nunca faria sucesso, que ficar na ponta dos pés numa caixinha de música, não fazia dela especial. Depois de um tempo, começou a beber. Ela não podia mais suportar. Um dia, soube que o circo tinha chegado na cidade. Era sua chance. Achou um jeito de ser levada pra lá e na matinê do domingo se escondeu na mala do trapezista. A bailarina fugiu com o circo e foi parar na Rússia, mas nunca conseguiu dançar no Bolshoi.
Precisava ir embora. Não aguentava mais viver com ele. Depois de alguns meses juntos, o Soldadinho de Chumbo, começou a mostrar quem realmente era. Não queria que ela dançasse, nem usasse o vestido de bailarina. Dizia que botar as pernas de fora era coisa de prostituta. Mulher dele, tinha que viver pra tomar conta do seu homem e da sua casa, que mais parecia um quartel. Talvez, por ter uma perna só, ele se sentisse humilhado e para descontar a sua raiva do mundo, a humilhava também. Dizia que nunca faria sucesso, que ficar na ponta dos pés numa caixinha de música, não fazia dela especial. Depois de um tempo, começou a beber. Ela não podia mais suportar. Um dia, soube que o circo tinha chegado na cidade. Era sua chance. Achou um jeito de ser levada pra lá e na matinê do domingo se escondeu na mala do trapezista. A bailarina fugiu com o circo e foi parar na Rússia, mas nunca conseguiu dançar no Bolshoi.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Porque o abraço dele era porta fechada
Ilustração: Aline Jobim
Porque o abraço dele era porta fechada. E nem todas as armas e armadilhas podiam alcançá-la dentro daqueles braços. O mundo e o medo ficavam lá fora. E os pensamentos que sussurravam ameaças ao pé do ouvido iam silenciando a cada batida do coração. Dele, que era dela. Quando algum sentimento perigosamente falava mais alto, ela o apertava ainda mais forte, como se tentasse atravessar de uma pele pra outra e deixar a sua vida ali perdida na dele.
Porque o abraço dele era porta fechada. E nem todas as armas e armadilhas podiam alcançá-la dentro daqueles braços. O mundo e o medo ficavam lá fora. E os pensamentos que sussurravam ameaças ao pé do ouvido iam silenciando a cada batida do coração. Dele, que era dela. Quando algum sentimento perigosamente falava mais alto, ela o apertava ainda mais forte, como se tentasse atravessar de uma pele pra outra e deixar a sua vida ali perdida na dele.
Aurora
Foto: Wilk
Aurora de todas as horas. Aurora do dia. Aurora da noite. Aurora até o entardecer. Quando o céu fica cor de rosa e o sol vai embora. Sol, que mora do outro lado da Aurora. Passando pela Santa Isabel ou pela Duarte Coelho. Porque a Aurora é assim, cheia de histórias. Dessas que ficam marcadas nas ruas e nos rostos. Aurora de tempos áureos. De antigos casarios. De passados, de lembranças. Onde o velho se transforma em novo. Despistando a morte e o esquecimento. Renascendo na arte, Aurora da Criação. Que transforma o monumento em libertação. Que grita em silêncio. E clama contra a injustiça, a dor e o sofrimento. Aurora da vida. Vida que corre em suas portas e janelas de todas as cores. Pelas calçadas e pelas pontes. As três pontes da Aurora, braços sobre o Capibaribe. Aurora que tenta alcançar o mar. Mas, o mar da Aurora é de gente. Um mar que passa e não pára. O dia todo, todos os dias. E quando a Aurora silencia, a cidade dorme até que outra aurora possa chegar e despertar.
Aurora de todas as horas. Aurora do dia. Aurora da noite. Aurora até o entardecer. Quando o céu fica cor de rosa e o sol vai embora. Sol, que mora do outro lado da Aurora. Passando pela Santa Isabel ou pela Duarte Coelho. Porque a Aurora é assim, cheia de histórias. Dessas que ficam marcadas nas ruas e nos rostos. Aurora de tempos áureos. De antigos casarios. De passados, de lembranças. Onde o velho se transforma em novo. Despistando a morte e o esquecimento. Renascendo na arte, Aurora da Criação. Que transforma o monumento em libertação. Que grita em silêncio. E clama contra a injustiça, a dor e o sofrimento. Aurora da vida. Vida que corre em suas portas e janelas de todas as cores. Pelas calçadas e pelas pontes. As três pontes da Aurora, braços sobre o Capibaribe. Aurora que tenta alcançar o mar. Mas, o mar da Aurora é de gente. Um mar que passa e não pára. O dia todo, todos os dias. E quando a Aurora silencia, a cidade dorme até que outra aurora possa chegar e despertar.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Era um homem atormentado por fantasmas.
Foto Gerson Rissin
Era um homem atormentado por fantasmas. Não de antepassados, histórias contadas, medos ancestrais. Não. Era atormentado pelos fantasmas do que viria a seguir. No próximo emprego, no próximo encontro, na próxima esquina. E contra esses fantasmas, não tinha como lutar. Seria completamente novo, surgiria do nada, transformaria o agora. Como lutar contra o inesperado? Ele estava indefeso. Com os fantasmas do que viria a seguir lhe impedindo de seguir adiante, porque era adiante que morava o perigo. Foi assim que o homem atormentado pelos fantasmas do que viria a seguir, virou fantasma também. O medo da vida o matou. Foi flagrado tentando assombrar Gerson Rissin, que distraído com o momento presente, nem reparou nas possibilidades assustadoras que o minuto seguinte poderia lhe trazer e seguiu o seu caminho sem sustos.
Era um homem atormentado por fantasmas. Não de antepassados, histórias contadas, medos ancestrais. Não. Era atormentado pelos fantasmas do que viria a seguir. No próximo emprego, no próximo encontro, na próxima esquina. E contra esses fantasmas, não tinha como lutar. Seria completamente novo, surgiria do nada, transformaria o agora. Como lutar contra o inesperado? Ele estava indefeso. Com os fantasmas do que viria a seguir lhe impedindo de seguir adiante, porque era adiante que morava o perigo. Foi assim que o homem atormentado pelos fantasmas do que viria a seguir, virou fantasma também. O medo da vida o matou. Foi flagrado tentando assombrar Gerson Rissin, que distraído com o momento presente, nem reparou nas possibilidades assustadoras que o minuto seguinte poderia lhe trazer e seguiu o seu caminho sem sustos.
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